Jovem praiense aposta na formação técnica e cria empresa de tecnologia voltada para residências
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07 fevereiro 2024

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Em entrevista ao Balai, João Alves Baessa, conta como conseguiu transformar o seu projeto final de formação numa oportunidade de negócio que já funciona há mais de três anos.

João Alves Baessa, ou simplesmente Baessa, como é conhecido, tem 29 anos e reside na zona de Fonton, na cidade da Praia, lugar que o viu nascer e crescer e onde também instalou a oficina do Edifício Inteligente, empresa de prestação de serviços nas áreas de eletricidade, automação e sistemas fotovoltaicos.

Até 2013, João Baessa dedicava parte do seu tempo à criação artística, design e montagem de fotos, por vezes também fazia pequenos serviços de eletricidade numa empresa, onde sentiu-se cativado pela área técnica e pelo conserto de aparelhos eletrônicos.

Anos mais tarde, surgiu-lhe a oportunidade de fazer uma formação técnica e profissional em Sistemas Fotovoltaicos (instalação e manutenção de painéis solares) num dos centros de formação profissional na cidade da Praia.

“Os primeiros anos de formação não foram nada fáceis, íamos à pé daqui até ao centro de formação que fica na zona industrial do Palmarejo Grande, o que tornou aquele período em algo desafiante, mas que fez-me ver que não há algo que seja tão difícil ao ponto de não ser ultrapassado. Nos períodos da manhã trabalhava como servente de obras e à tarde ia às aulas”, lembra.

Passado um ano, Baessa conseguiu concluir a sua formação e logo de seguida decidiu fazer uma segunda, desta vez o de Automação, e no final da mesma, apresentou um projeto final intitulado “Casa inteligente”, que hoje se transformou no Edifício Inteligente.

“A ideia nasceu ao observar que em Cabo Verde não há muita tecnologia voltada para as residências, em que seja possível controlar a casa a partir de um smartphone. Então decidi fazer a junção do projeto apresentado na conclusão da minha primeira formação, que era voltada para o desenvolvimento de uma casa totalmente equipada com painéis solares, com o último projeto de desenvolvimento de sistemas capazes de tornar uma casa totalmente autónoma”, explica

Ao concluir as duas formações, o jovem conta que não tinha um emprego fixo e por vezes trabalhava como um prestador de serviços, até que decidiu arriscar e apostar no autoemprego, quando ressuscitou os dois projetos da sua formação profissional.

Em outubro de 2019 criou e formalizou a empresa, que estava prevista atuar no mercado no início de 2020, mas, com a chegada da pandemia da covid-19, no país, o técnico sentiu-se obrigado a suspender as atividades, mas investiu “em marketing, identidade visual e a divulgação dos serviços através do telemarketing”,

Após o período de quarentena, o recém-empreendedor decidiu avançar com as atividades do Edifício Inteligente, em meio aos períodos de crise que o país atravessava na época e teve de enfrentar desafios.

“Os primeiros anos de atividades foram complicados, às vezes tinha um mês preenchido de trabalho e às vezes ficava quase dois meses sem trabalhar. Mas também foram importantes, porque despertou em mim a resiliência que precisava naquele momento para aprender a lidar com situações de escassez”, revela.

No início do seu percurso, Baessa contou que recorreu a algumas instituições para solicitar um financiamento para o negócio, situação que não considera fácil, uma vez que “no início as empresas encontram-se numa situação de sobrevivência e por vezes não correspondem a todas as regularidades exigidas no processo de solicitação de crédito”.

“Comecei a trabalhar com os meus próprios recursos, tinha o mais importante que eram as competências técnicas e algumas ferramentas básicas que adquiri ao longo dos meus anos de formação e dos estágios. Isso possibilitou-me fazer alguma coisa”,

Quando a empresa foi criada, o foco principal era o desenvolvimento de sistemas inteligentes para diferentes edifícios, bem como a prestação de serviços de energias renováveis. Segundo conta, ao longo do tempo a empresa sentiu a necessidade de prestar outros tipos de serviços que garantissem a sustentabilidade do negócio, uma vez que, na visão de Baessa, os serviços iniciais eram novidade no mercado e não tinham solicitações suficientes.

Atualmente a empresa presta serviços tanto de instalação e manutenção elétrica quanto dos sistemas fotovoltaicos, bem como o conserto de aparelhos eletrónicos e informáticos.

Além disso, a empresa tem três funcionários que atuam internamente e faz a contratação de mão de obra externa quando necessário, uma estratégia adotada pelo proprietário, dado que de vez em quando são solicitados serviços maiores que exigem mais profissionais envolvidos.

“Entre essa mão de obra externa contamos com estagiários que são enviados pelos centros de formações para que possam pôr em prática aquilo que aprenderam”, diz.

Conforme avançado pelo micro-empreendedor, a empresa atua no território nacional. Além da cidade da Praia, prestam serviços noutras localidades da ilha de Santiago e em outras ilhas, como Fogo, Brava e Maio.

A aquisição de um espaço próprio onde a oficina está instalada e a adoção da prática de registo das solicitações de serviços, assim como o aumento de clientes e das demandas, são algumas das conquistas feitas pela empresa até então, segundo o empreendedor.

Acesso ao financiamento como entrave para crescimento de pequenos negócios

“Se antes instalávamos um ou dois painéis solares em um ano, era muito, mas hoje fazemos cerca de dez instalações tanto em Santiago, como nas outras ilhas onde já atuamos. Agora um dos nossos grandes desafios têm sido responder a todas as demandas”, diz e acrescenta que almeja aumentar o pessoal para responder aos pedidos.

Outro desafio apontado por Baessa é a demora nos processos de aprovação do crédito. “O acesso ao crédito é tão demorado que eu só pude conseguir isso um ano após o requerimento, ou seja, não me serviu para o que precisava no momento, tive de me desenrascar”.

“Às vezes há uma fraca aposta das grandes instituições, principalmente as públicas, nas empresas criadas por um cidadão comum que não pertence a um grupo específico de empresas que acabam sempre por ficar com grandes projetos”, lamenta.

“Na prática, esse apoio às empresas, dito pelo estado, não funciona da forma como pensamos. Às vezes fica claro que alguns serviços são canalizados aos empreendedores apenas como forma de não dizerem que não o fizeram”, completa.

Para Baessa, os micro-empreendedores são “o elo mais fraco”, quando o assunto é a fiscalização do Estado, uma vez que, “se agora não pagarmos às finanças, são levantadas inúmeras barreiras que lhes impossibilitam de crescer, enquanto empresa”, lamenta.

“Quando fazem isso, não precisam nem saber se produzimos ou não, já que não somos uma contabilidade organizada e não temos como justificar os gastos. Isso faz com que a parte que é tomada pelo Estado sempre faça falta ao negócio”, completa.

Além das responsabilidades para com a empresa, Baessa é presidente da Associação Jovem Empreendedor de Cabo Verde, desde 2021, ano em que a organização foi criada, com foco nas dificuldades identificadas por jovens empreendedores, ao longo de sua jornada.

Nesta caminhada empreendedora, Baessa destaca que tirou inúmeras lições, sendo a principal, a consciência de que embora o empreendedorismo em Cabo Verde não seja fácil, segue sendo como “uma das melhores alternativas ao desemprego”.

Balai

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