Cláudia Tavares: bióloga ‘por acaso’, doceira por paixão
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08 setembro 2023

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Esta cabo-verdiana que é técnica do Banco de Leite do Hospital Agostinho Neto divide a profissão com a confeção de bolos e doces. O gosto pela cozinha surgiu ainda na infância quando ajudava a mãe a fazer pasteis e rissóis.

Natural do bairro da Calabaceira, na Praia, desde os 9 anos que Cláudia Odelise Lopes Tavares habituou-se a apoiar a mãe na venda de pastéis e rissóis. Quando entrou para o secundário, no Liceu Domingos Ramos, continuou a ajudar a progenitora. “Vendia e estudava”.

Os pais separam-se quando ainda era pequena e Cláudia e a mãe sempre estiveram lado a lado. “Ela ia vender e eu também”, recorda. Mais tarde, a irmã mais nova também se juntou às duas. “Desde sempre os pastéis e rissóis foram a nossa base, o nosso sustento. Nas férias quando as outras crianças brincavam, nós fazíamos também pastéis”, conta.

Ao terminar o secundário, não ambicionava fazer uma formação superior, mas a mãe queria que Cláudia tivesse aulas de Informática para que pudesse trabalhar numa caixa de supermercado, por exemplo. Contudo, Cláudia terminou o 12º ano com boas notas e resolveu fazer uma prova de acesso para o curso de Ciências Biológicas na Universidade de Cabo Verde.

“Nunca tive o sonho de ser bióloga, ou advogada, agarrei-me às oportunidades que foram surgindo na minha vida”. Entretanto, o pai comprometeu-se em apoiar no pagamento de propinas e Cláudia matriculou-se na licenciatura de Ciências Biológicas, que no seu entender tinha maiores saídas profissionais.

“O meu pai pediu-me que lhe ajudasse na loja”, explica, por isso o tempo na universidade foi dividido entre as aulas, a ajuda à mãe e o trabalho na loja de produtos pecuários do pai. “Estudar era de madrugada”.

Acabou por conseguir uma bolsa de estudos porque no último ano da licenciatura teve de abdicar de trabalhar na loja. Não conseguia mais conciliar o trabalho com o horário das aulas. “Hoje sou grata ao meu pai porque aprendi a correr atrás e não recebi nada de mão beijada”, reconhece atualmente apesar das dificuldades que teve de enfrentar.

Ainda na universidade, sem nunca ter tido uma formação na área nem experiência com doces, começou a fazer bolos e outros petiscos para os lanches dos colegas até que surgiram as primeiras encomendas. “A partir de 2014/2015 comecei a fazer para vender mesmo”, recorda e foi assim que acabou por criar a sua página – Bolos da Cacau (uma alcunha surgiu quando era pequena) – para divulgar os seus trabalhos.

A entrada para o Banco de Leite deu-se por uma coincidência. A professora orientadora do seu trabalho final, a nutricionista Edith Pereira, sugeriu-lhe fazer um trabalho sobre o Banco de Leite que era um serviço novo no Hospital Agostinho Neto. “Fiz um perfil das doadoras do Banco de Leite, um estudo que não foi para a gaveta, literalmente, porque com esse estudo o hospital viu o que o estava a ser mal divulgado e onde era preciso investir em divulgação (…)”.

Como Cabo Verde faz parte da Rede Mundial de Bancos de Leite, Cláudia acabou por concorrer ao Prémio de Jovem Pesquisador da Rede dos Bancos de Leite que foi lançado em 2015. “Usei a minha monografia para fazer um artigo científico e concorri na categoria Assistência à Amamentação e fiquei em primeiro lugar”, recorda a jovem que foi receber o prémio no Brasil.

No regresso, enviou uma carta para a direção do Hospital a pedir um estágio no Banco de Leite, uma proposta que o HAN aceitou, estando Cláudia até hoje a trabalhar na instituição.

Em paralelo, a produção de bolos continuou, bem como de pasteis e rissóis para apoiar a mãe. “Não fiz uma formação na área de doces e bolos. Como costumam dizer, quanto mais fazes mais aprendes, os erros que cometi no início já não cometia depois (…) Eu adoro fazer bolos e hoje tenho um outro negócio que é de gelados”, conta com orgulho que desde 2021 que, em parceria com o marido, criou a Ice Cacau e produz gelados, cuja venda é feita numa bicicleta, uma gelataria móvel feita pelo marido, pelas ruas da cidade.

Há cerca de cinco anos, a mãe de Cláudia adoeceu na sequência de vários anos de traba-lho, coube à Cláudia e à irmã segurar as pontas do negócio e conciliar com as respetivas vidas profissionais. Entretanto, nos últimos anos Cláudia tem-se dedicado apenas aos doces.

“Levanto-me mais cedo, venho do trabalho cansada, mas tenho de fazer as encomendas. Acordo de madrugada para cobrir os bolos e deixá-los no frigorífico. A procura é muita e as encomendas são várias. Há dias em que estou exausta”, diz e acrescenta que chega a fazer três bolos por dia.

Trabalha sozinha porque tem alguma dificuldade em encontrar alguém para a ajudar por causa do seu horário laboral que varia consoante os turnos.

Entre bolos de aniversário, de casamento, de batizados, entre outros, os doces acabam por ocupar todo o seu tempo livre. Trabalha com pasta americana e com chantilly e os preços dos produtos variam entre os 4 mil e os 25 mil escudos, diz.

Em finais de maio deste ano, Cláudia sofreu um duro golpe no negócio quando a página Bolos da Cacau no Facebook foi hackeada. “Tentei de todas as formas, mas não consegui recuperar a conta que hoje em dia está aberta, mas em nome de outra pessoa. Apagaram todos os meus trabalhos e fotos. Fiquei sem nada“, lamenta e explica que não prestou queixa na polícia porque achou que não iria valer a pena.

Atualmente, a jovem faz a venda e divulgação online via o seu perfil pessoal, mas quer voltar a apostar numa página profissional. Diz que o ataque levou a uma quebra na procura pelos seus produtos já que o seu trabalho era muito visualizado online e havia pessoas que entravam em contacto exclusivamente via as redes sociais, apesar de reconhecer que tem também muitos clientes que já conhecem os seus produtos e a contactam diretamente.

Já pensou em se dedicar exclusivamente ao negócio de produção de bolos e doces até porque explica que tem um contrato precário com o HAN que não lhe permite progredir nem ter melhoria salarial, mas é uma decisão ainda a ponderar até por causa das responsabilidades familiares que tem.

“Às vezes penso nisso quando lembro da situação em que estou (…). Entrei no hospital em 2015, mas ainda não sou do quadro nem do HAN nem do ministério de Saúde. Estou numa situação precária”, lamenta.

Questionada sobre como concilia as duas atividades, Cláudia diz que “continua a ser uma funcionária íntegra do Banco de Leite e a Cláudia Cacau depois ou muito antes do expediente”.

“Nunca falho com o meu trabalho e tento também sempre conciliar para não falhar com os meus clientes porque dou a cara pelas duas áreas e tento conciliar ambas”.

Balai

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