Livros, artesanato feito a partir de vidro e plástico, malas de fibra de sisal, calçado e vestuário diversos são alguns dos produtos que podem ser encontrados na Feira Cultural Abel Djassi no Palácio de Cultura Ildo Lobo.
Com o objetivo de comemorar o Dia de África, decorre desde ontem, dia 25, a Feira Cultural Abel Djassi no Platô. Em entrevista ao Balai, os expositores que marcam presença no evento de três dias consideram que a data deve ser resgatada e celebrada com mais força no arquipélago.
É a segunda vez que a empresa comunitária Ekonatura que trabalha com a reciclagem de plástico e vidro expõe no Palácio da Cultura. A representante Elisabete Varela conta que juntamente com outros moradores de São Francisco descobriram na reciclagem do vidro e do plástico uma atividade geradora de emprego. O projeto começou com uma formação sobre o tratamento do plástico e vidro após os formadores terem notado uma grande presença destes resíduos na zona de São Francisco. O vidro e o plástico são triturados até formarem areia e depois usados para fazer vasos, chaveiros, pentes e outros utensílios domésticos que posteriormente são comercializados.
Segundo Elisabete Varela, nem sempre conseguem plástico e vidro suficiente para a atividade por isso apela às pessoas para entregarem na associação resíduos de plástico e vidro sendo que a própria equipa está aberta a fazer o levantamento nas residências.
Presença constante em exposições nacionais, a cabo-verdiana Andreia Sanches começou a dedicar-se ao artesanato há três anos. A jovem usa fibras de bananeira e casca de coco para fazer bijuteria, candeeiros e, como a própria diz, um pouco de tudo. “Eu, como africana, sinto-me na obrigação de comemorar esta data, não creio que deva haver um motivo e devíamos estar aqui em peso”, constata a jovem que lamenta os poucos visitantes e comerciantes nas primeiras horas da feira.
“É um dia muito importante para falarmos de África e de tudo que tem acontecido, deve ser comemorado da melhor forma possível para mostrar a arte, debater e conhecer os irmãos”, destacou. Espera que mais pessoas visitem a feira e comemorem a data com muita alegria. Mais do que vender, Andreia quer ver as pessoas a darem mais atenção ao continente e à sua cultura.
É pela cultura que Alioune Ndiaye participa da feira. Para o senegalês que vive há mais de 25 anos em Cabo Verde, o único bem que não podem tirar da África é a cultura. “A África sempre foi um continente rico, além da riqueza natural (ouro, petróleo e diamante) é rico também na cultura”, salientou, acrescentando que muitos dos outros recursos são retirados do continente, mas a identidade permanece intacta.
Defende que com o passar dos anos os cabo-verdianos têm se tornado mais conscientes da sua identidade, entretanto critica os governos africanos que praticam mais a “teoria do que a ação”. Alioune Ndiaye que trabalha juntamente com a família na confeção de sapatos, roupas, bolsas, bijuteria e outros, realça que a deportação que alguns imigrantes africanos sofrem ao tentar entrar no país é um dos grandes problemas que precisa de resolução.
Apresentando livros de autores africanos, a Livraria Afropolitanu traz à feira clássicos e livros escritos por jovens cabo-verdianos como poesias, contos e romances. O representante da livraria, Djuntamon Afrikanu acredita que é um dever participar desta festividade como forma de enriquecer e divulgar a literatura nacional.
“É uma data marcante e importante para todo um continente, nesta data os africanos uniram-se contra o colonialismo. O esquisito é não celebrar e todos devem ter o dever e orgulho em celebrar esta data”, ressalva e sublinha a importância de se celebrar a data como forma de mergulhar mais a fundo na história, conhecer e contribuir para o desenvolvimento do país. “O futuro de Cabo Verde está ligado á África”, diz e acrescenta que Cabo Verde só poderá andar pelo seu próprio pé quando se unir à África.
Desde a sua criação da livraria tem procurado fornecer mais livros do continente para quebrar o vínculo da “narrativa colonial. “Estamos a transmitir a liberdade do nosso pensamento, eles pensam por nós e nós executamos de acordo com o interesse deles”, constata Djuntamon Afrikanu. Regozija-se com o crescente interesse pela leitura que os cabo-verdianos têm demonstrado nos últimos tempos, se deve à escrita no próprio idioma e à adesão dos jovens na produção de livros. Por isso, considera uma “vergonha” a língua cabo-verdiana não ser ensinada nas escolas depois de anos de Independência.
Na feira também esteve presente a Mizé Acessórios com as bolsas da marca Siza Karapati feitas a partir da fibra de sisal. A nome da marca “Siza” representa uma mulher cabo-verdiana e “Karapati” uma planta que cresce naturalmente sem ser cultivada ou regada.
Ao fim do dia de ontem deu-se início à “Marxa pa Union di Africa” conduzida pelo grupo carnavalesco Bloco Afro Abel Djassi. A marcha foi seguida por um grupo de jovens e adultos e terminou na estátua Amílcar Cabral.
Celine Salvador / estagiária
Balai
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