Formada em Criminologia e Reinserção Social, Aldina Brás é uma jovem que hoje dedica-se exclusivamente à comercialização de pratos veganos em São Vicente.
Tudo começou em 2021 quando Aldina ou Dinná, como é “carinhosamente” apelidada, foi diagnosticada com um problema gastrointestinal, sendo aconselhada pelos médicos para “evitar o consumo de qualquer alimento de origem animal, principalmente carnes vermelhas”.
“Na altura não foi fácil, porque não há muita opção no nosso mercado para seguir uma alimentação regrada à base de vegetais, por isso, comecei a fazer as minhas pesquisas e a tentar adaptar a minha alimentação o máximo que podia”, lembra a mindelense de 34 anos.
Passado algum tempo, começou a confeccionar os próprios alimentos com aquilo que “conseguia” encontrar, até que um dia decidiu fazer um hambúrguer e postar nas redes sociais. Recebeu uns elogios de uma amiga que a questionou se o prato era para a venda. Após esse questionamento, Dinná decidiu apostar na venda de alimentos que consumia.
A mindelense viu que a decisão foi acertada quando soube que havia mais pessoas que passavam pela mesma situação, ou que pelo seu bem-estar optaram por não consumir alimentos de origem animal, mas tinham dificuldade em encontrá-los no mercado nacional.
“No início, comecei a confeccionar alguns hambúrgueres e biscoitos veganos, isso porque, para mim também era restrito o consumo de glúten, lactose e afins. Então, selecionei algumas pessoas do meu círculo que já tinham a tendência de seguir um estilo de vida mais saudável e que sabia que iam aderir. Gostaram e incentivaram-me a seguir em frente.” relata a mesma e hoje considera que a “oportunidade chegou disfarçada de doença”.
“Tive o meu problema e tive que procurar formas de o ultrapassar sem optar muito pela ingestão de medicamentos. Assim, pude perceber que o meu problema também era o de várias pessoas”, completa.
Depois de um período de teste, foi então que em abril de 2021 a empreendedora vegana decidiu abrir o negócio ao público e produzir mais opções para pequenos-almoços e almoços, continuou na confecção de hambúrgueres, biscoitos e adicionou ao cardápio pastéis com um derivado da mandioca.
Para Dinná Brás, seguir o veganismo é um “estilo de vida bastante exigente”, uma vez que nem todos tem a “disposição” de dedicar um tempo na cozinha para preparar as refeições e optam pelo “caminho mais fácil”, a escolha de alimentos que trazem “perigos” à saúde, que na sua ótica, costumam ser os mais acessíveis.
“Para as pessoas que escolhem seguir o veganismo é bom lembrar que há uma necessidade de ter atenção nos pratos, tendo em conta os nutrientes, principalmente. Por isso é sempre importante contar com as orientações de um nutricionista para que possam saber quanto de proteína, carboidrato e gordura temos e precisamos no prato para garantir que estamos a seguir uma alimentação saudável”, destaca ao realçar que conta com o apoio de uma nutricionista que é quem cuida dos cardápios do Coisinhas Vegan.
Ciente das limitações existentes no mercado cabo-verdiano no acesso aos produtos naturais, Dinná afirma que o posicionamento do negócio perante a escassez de algumas matérias primas, optando pela “variação dos pratos” conforme a época de colheita dos produtos, uma forma que a mesma diz ter encontrado para não optar por produtos industrializados, uma vez que os pratos do Coisinhas Vegan são “100% orgânicos”.
“Acredito que até mesmo os fornecedores estão cientes dessa escolha por veganismo aqui no país e que de certa forma acabam por contribuir nesse aspecto, trazendo para o território alguns produtos nessa linha”, observa.
“De momento, além das refeições por encomenda aos particulares, em São Vicente, optamos também pela produção de congelados, como falafel de grãos de bico, almôndegas e hambúrgueres de grãos de quinoa, lentilha e de bico. Isso para o fornecimento de restaurantes e supermercados parceiros na ilha, bem como para Santiago, Santo Antão e Sal “, adianta.
Atualmente com dois anos no mercado, embora tenha registado uma “pequena pausa” em julho de 2022, a empreendedora conta em entrevista que se sente mais “orgulhosa” e “motivada” com o recomeço que tiveram este ano, fazendo com que a equipa aumentasse.
Hoje a Coisinhas Vegan conta com mais duas sócias, uma nutricionista e uma educadora física, ambas veganas, à semelhança de Dinná. Além disso, a empresa tem três funcionários efetivos que trabalham internamente e emprega de forma “indireta” mais duas pessoas designadas para as entregas.
Mesmo estando hoje a trabalhar só por encomenda, a empreendedora vegana diz ambicionar ter um espaço físico para que os clientes possam fazer as refeições no local. Com as “energias renovadas” Aldina Brás almeja também ver os produtos melhor distribuídos para outros mercados a nível nacional, como destacou o caso da cidade da Praia e da ilha do Sal.
Balai
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